Como completar uma maratona incompleta?Muito foi falado do fiasco da Maratona de Chicago: no último domingo, essa competição foi disputada num calor tão intenso, que a prova foi interrompida após algumas horas, deslocando-se a chegada para a linha da meia-maratona. Corredores de Chicago contaram que não havia mais o que beber, tamanho o consumo pelos primeiros atletas a passarem nos postos d'água. Mas o encerramento antecipado da prova (desagradando milhares que pagaram inscrições) não foi suficiente para impedir sérios problemas: milhares de atletas passaram mal, centenas foram hospitalizados, e um morreu.
Corrida mata?Depois de Chicago, uma velha discussão parece que irá retornar: será a corrida uma atividade prejudicial à saúde?
Nem tanto! A corrida e a caminhada, segundo a última pesquisa do IBGE, é o esporte de mais da metade dos que praticam alguma atividade física em nosso país. A mesma realidade deve existir pelo mundo afora. E os amigos devem ter percebido que para cada morte de corredor, há uma enorme quantidade de mortes de jogadores de futebol, muitos em pleno campo. E os futebolistas que aparecem morrendo na mídia são os profissionais, com treinamento controlado cuidadosamente. Acidentes acontecem, mas entre os corredores eles são muito mais raros do que parecem à primeira vista.
Lições a aprender Que lições a tragédia de domingo em Chicago pode nos ensinar?

A primeira é correr até a linha de chegada! A vitória masculina foi decidida pelos 5 centésimos de segundo que Patrick Ivuti chegou antes de Jaouad Gharib, após quilômetros inteiros de disputa ombro a ombro.
A prova feminina teve a vitória de Berhane Adere, que, num sprint, ultrapassou Adriana Pirtea - que já comemorava a vitória com a torcida, sem reparar na aproximação da rival. O sprint foi desconcertante: além de Adere estar muito rápida, ela tomou o outro lado da larga avenida, só sendo vista pela descontraída Pirtea tarde demais. Até mesmo os encarregados de esticar a faixa de chegada se confundiram, sem saber para que lado iriam!
Um vídeo amador (filmagem da tela da TV) mostra essa curiosa cena:
http://br.youtube.com/watch?v=B3u2huIEFkIA segunda lição é a de que não se podem realizar competições esportivas em condições climáticas de risco. A Maratona do Rio e a de Honolulu, regiões quentes, tomam esse cuidado há anos: são disputadas cedo da manhã, no inverno - a de Honolulu tem a largada na madrugada! Outras provas parecem arriscar ao trocarem a segurança pelo melhor horário de aparecer na TV. É o caso da São Silvestre e da Meia Maratona Internacional do Rio, disputadas em épocas quentes e horários de Sol forte. Até 2007, embora muitos tenham ido parar em hospitais, nenhum acidente mais grave ocorreu Mas o risco continua. (isso não significa que ninguém morra: as mortes registradas na Meia Maratona Internacional do Rio foram por queda da mureta da Niemeyer, em
1996).De qualquer forma, felizmente não me lembro de uma corrida no calor carioca ter sofrido por falta de água. Embora ainda não tenhamos chegado ao ponto de ser comum termos postos de bebidas repositoras...
Quanto a nós, corredores, Chicago nos ensina o bom-senso. O verão carioca chega forte, e com ele algumas competições muito boas. Temos que aprender a levar em conta as condições em que estamos correndo e saber não exigir do nosso corpo o que ele não tem condições de fazer. E, acima de tudo, muita hidratação! Torcendo para que nossos organizadores de competições continuem oferecendo água em grande quantidade...
Que saudade dos postos de esponjas molhadas da Maratona do Rio dos anos 80...